Esperança/Fé
É difícil e complicado. O equilíbrio fundamental.
Profissionalmente, é difícil gerir a proximidade com que lidamos com os doentes e suas famílias.
Abrir demasiado as defesas, leva a que soframos mais, comprometendo situações futuras.
Mas se a distância for demasiada, perdemos a confiança depositada em nós e nunca veremos o doente como ele é, falhando em tudo o que um médico é suposto ser.
Como dizer a alguém que tem um cancro, que vai morrer? Como o fazer muitas e muitas vezes? Como dar força para lutar, quando muitas vezes se sabe que vai ser uma luta em vão? Como manter a mesma vontade ao fim de muitos e muitos doentes desaparecerem? Como dizer a uns pais que a sua bebé provavelmente não vai sobreviver e que se o conseguir, será com graves sequelas?
Embora não directamente envolvido, participei no diagnóstico de uma situação grave da bebé de 4 meses que falei anteriormente. Uma hemorragia cerebral, a descoberta de um aneurisma, o mau prognóstico dada a complexidade do caso. Mesmo assim, vi os pais. E esse momento apertou-me o coração. Vi-os ao longe no momento em que o Neurocirurgião comunicava que era necessário uma cirurgia cerebral urgente. A mãe olhava incrédula. O pai chorava.
Estive várias vezes com a bebé. Linda, como todos os bebés, mas ela especialmente. Mesmo cheia de tubos, ligaduras e aparelhos de todos os tipos. Mas quando abria os olhos, olhava...
A cirurgia não correu da melhor forma. Houve complicações. Mas sobreviveu.
Resta esperar. Ter esperança/fé.
Foi isso que moveu os pais e médicos desde o início. Poderia ter morrido logo, mas tal não aconteceu. É isso que ainda os move.
Por muito ínfima que seja, existe a possibilidade de recuperar. As crianças têm destas coisas. Uma capacidade de recuperar que surpreende tudo e todos, todos os dias.
2 comentários:
Difícil gerir sentimentos, nem ser insensível, nem envolver demasiado...
Olá Aequillibrium!
Antes de mais agradeço por esta partilha!
Nas minhas reflexões, chego sempre a um ponto, para mim, essencial: o da relação humana. No fundo, perguntar: quem é o meu próximo?
Penso que todos nós estamos, diariamente, em contacto com pessoas, com os seus sentimentos, com a sua interioridade e deparamo-nos com um outro que nos diz algo. Até mesmo no silêncio. Há relações que são mais fáceis e avançamos, outras que nos custam e ficamos a vacilar…
Partilho da sua busca de equilíbrio na relação profissional. Ainda mais quando pode estar diante do limiar da vida. Há momentos que de facto fica-nos a esperança, ou a fé, para os que acreditam numa entidade para além da nossa realidade humana.
Já trabalhei num hospital psiquiátrico e num hospital distrital (neste último, directamente na área da capelania). Passava pelos internatos e, nalguns casos, conversava, noutros limitava-me a estar. A pessoa, seja quem for, ou o que tenha feito, precisa de acolhimento, de se sentir salva...
Obrigado pelas notícias da bebé, desde que li, no outro post, tenho pensado nela! :) De facto, podemo-nos deixar surpreender pela capacidade que eles têm… :)
Mais uma vez, obrigado! :)
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